sexta-feira, 18 de março de 2011

Poesias retiradas do Livro " Antologia de Poesia Brasileira Romantismo

Castro Alves
Adormecida

Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina
E ao longe, num pedaço do horizonte
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras
Iam na face trêmulos -- Beijá-la

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as flohas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava, ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P'ra não zanga-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
"Ó flor - tu és a virgem das campinas!
"Virgem! tu és a flor da minha vida!..."

Castro Alves
O Navio Negreiro

Parte I
'Stamos em pleno mar.. doudo no espaço
Brinca o luar -- dourada borboleta;
E as vagas após eles correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca ascende as ardentias,
-- Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azúis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos deus é o céu? Qual o oceano ?...
'Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? Onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas nao deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo -- O mar em cima -- O firmamento
E no mar e no céu -- a imensidade!
Oh! que doce armonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! Ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Criances que a procela acalentara
No berço desses pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixa ai que eu beba
Esta sevagem, livre poesia
Orquesta -- éo mar que ruge pela proa
E o vento, que nas cordas assobia
Porque foges assim, barco ligeiro ?
Porque foges do pávido poeta ?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha ao mar -- doudo cometa !
Albatróz! albatróz! alma do oceano,
Tu que dorme das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatróz! albatróz! dá-me estas asas.

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